Título:
ARQUIGRAFIA de linhas imaginárias
Professor
Responsável:
Artur Simões Rozestraten
Pós-graduandos
colaboradores:
Juliano Carlos Cecílio Batista Oliveira - Núcleo de Linguagem, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design, Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Rodrigo Luiz Minot Gutierrez - UNIUBE
Daniele Queiroz dos Santos - Grupo de Pesquisa CNPq 'Representações: imaginário e tecnologia' - FAUUSP
Juliano Carlos Cecílio Batista Oliveira - Núcleo de Linguagem, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Design, Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Rodrigo Luiz Minot Gutierrez - UNIUBE
Daniele Queiroz dos Santos - Grupo de Pesquisa CNPq 'Representações: imaginário e tecnologia' - FAUUSP
Instituição:
Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP)
Apoio e parcerias:
FAPESP
(2012/24409-2)
RELAB
– Laboratório de Representações da FAUUSP
NaWeb
– Núcleo de Apoio à Pesquisa em Ambientes Colaborativos na Web
Grupo de
Pesquisa CNPq ‘Representações: imaginário e tecnologia’
Local:
Vários e diversos em diferentes cidades
brasileiras
Duração:
entre 03 e 21/11/2015
Data
e horário do WS:
a critério dos interessados
Público
alvo:
Estudantes
de arquitetura e urbanismo, estudantes de design, de artes plásticas, de artes
visuais, de história, de geografia, de psicologia, de filosofia, das
engenharias, de ciências sociais, de arqueologia, de antropologia, de música,
de dança, de artes cênicas, de letras, arquitetos, fotógrafos, professores e
leigos interessados no tema.
Vagas disponíveis:
Ilimitadas e gratuitas, sem necessidade de inscrição prévia, basta criar uma conta no ARQUIGRAFIA www.arquigrafia.org.br e associar às imagens produzidas a hastag #representar2015
Resumo
da proposta:
É
possível pensar, como propôs Heidegger (2002), que “o limite não é onde uma
coisa termina mas, como os gregos reconheceram, de onde alguma coisa dá início
à sua essência. ”
É do
limite para dentro que se conforma um objeto, um lugar, um conceito, uma
palavra, uma imagem. Para fora desses limites há o mundo indistinto, o espaço
sem lugares, uma extensão amorfa a princípio.
O muro
témenos dá início ao santuário. A partir dele tem início uma epifania no espaço
natural homogêneo. Ali habita um Deus e haverá altares e templos. Sempre
encontraremos esse muro pelo lado de fora. Viremos sempre de fora para dentro.
O muro períbolo delimitará uma linha cosmogônica do universo dentro do
universo, como poderia dizer Focillon (1981).
Perambulando
investigaremos esse interior antes com a imaginação, extensão sonhadora que
antecipa e guia os sentidos. Depois, passado o muro, seguiremos imagin-vendo de
dentro para ainda mais adentro. Na outra extremidade do dentro, depois do
dentro mais profundo, do lado de lá estaremos novamente fora.
O
horizonte de Brasília não é onde a cidade deixa de ser, mas a linha horizontal
a partir da qual a cidade centrípeta converge para ser o que é, para além do
que se imaginou que seria outrora.
Na
tríplice fronteira entre o Brasil, a Argentina e o Paraguai, no encontro dos
rios Paraná e Iguaçu, o que surpreende é a surrealidade da semelhança. Naquela natureza
tripartida, artificial é a cisão que não convence nem a imaginação nem os
sentidos. Postos em um dos vértices estamos onde poderia estar o outro,
triplamente espelhados. Talvez daí Borges tenha intuído a condição onírica de
‘O Outro’, deslocada inadvertidamente (ou especularmente?) para as margens
setentrionais do rio Charles, ao norte de Boston, em Cambridge.
Ali onde
o marco indica que passa a linha do Trópico de Capricórnio, do Equador ou de
Greenwich surpreende a indiferença da natureza quanto a um lado e o outro.
Prova disso são os pássaros e as crianças que cruzam por ali resolutos e
absolutamente distraídos.
A
dialética da fronteira se posta firme na oscilação paradoxal da
(des)continuidade. Início ou fim, inferno ou paraíso, tangível ou inapreensível,
interior ou exterior?
A linha
d´água da baía de Santos era para as naus portuguesas o começo de um mundo.
Para as tribos indígenas que habitavam o planalto e desciam pelo Peabiru para o
litoral no inverno ali também era o início de um mundo. O mundo salgado e
aquático de espumas revoltas que expele homens brancos ocasionais.
Costumamos
pensar a partir de dentro, mais facilmente, as fronteiras distantes. Linhas
imaginárias pendentes sobre rios longínquos, tracejadas sobre o mar aberto,
descontínuas nos desertos, finíssimas no solo úmido das matas selvagens,
grafadas com precisão em extensos espaços ortogonais de solidão. Sob elas
correm eventualmente outras linhas supostamente mais concretas como formatos
engenhosos e variados: cercas elétricas, grades, minas, linhas de laser, arames
farpados, valas, muros e baterias de mísseis.
Muito
mais raramente percebemos as fronteiras das cercanias, excessivamente
familiares, demasiadamente próximas e presentes para perturbarem nossos
limiares perceptivos. Estão tão dissolvidas em uma plácida permanência
perpétua, tão arcaica e profundamente assimilada, que se internalizam
inabaláveis e intransponíveis.
Michel
Serres (2014) nos conta que durante uma madrugada em 1995, um forte terremoto
derrubou as grades das jaulas do zoológico de Kyoto, no Japão.
Surpreendentemente não houve uma debandada geral dos animais selvagens. Os
animais nem se moveram, na verdade. Estavam tão acostumados àqueles limites
incontestáveis que nem mesmo ensaiaram confrontá-los para testarem uma vez mais
sua óbvia permanência. Fato é que caíram as grades reais, não as imaginárias.
Essas são muito mais persistentes.
Conseguiremos
reconhecer nas várias escalas, entre os lugares que nos envolvem e os espaços
que imaginamos, as fronteiras que nos cercam? Seremos capazes de nos mover
entre elas e captar imagens fotográficas de suas manifestações sensíveis? Serão
todas visíveis, representáveis, afinal? Podemos experimentá-las, dilatá-las,
reconfigurá-las, descontruí-las, ultrapassá-las?
Estas
reflexões preliminares reorganizam o mote do III Seminário REPRESENTAR para uma
experiência coletiva de derivas urbanas fotográficas que podem ser realizadas
de maneira não-coordenada e assistemáticas, em diferentes cidades brasileiras,
tendo como campo de convergência o ambiente colaborativo de imagens ARQUIGRAFIA
< www.arquigrafia.org.br > e a hashtag #representar2015 .
A partir
de convites feitos via Web aos usuários atualmente cadastrados e a novos usuários
em potencial essa atividade irá envolver ações e reflexões diretamente sobre a
plataforma ARQUIGRAFIA: uploads, intercâmbio, registro de impressões,
formulação de comentários e a análise conjunta de uma constelação original de
imagens digitais.
Espera-se
que essa proposta contribua com os objetivos do Seminário de compartilhar
experiências com diferentes óticas de abordagem sobre o problema das
representações da arquitetura, do urbanismo e do design na conjuntura técnica e
social contemporânea a partir de ensaios aproximativos, experimentais e
interrogativos que se valem do deslocamento do olhar, da fotografia digital e
das práticas colaborativas na Web.
Referências
bibliográficas:
BORGES,
Jorge Luis. O Outro. In: O Livro de Areia. Tradução: Davi Arrigucci Jr. São
Paulo: Companhia das Letras, 2009.
FOCILLON, Henri. Vie des Formes. Paris: PUF, 1981.
HEIDEGGER,
Martin. Construir, habitar, pensar. In: Ensaios e Conferências. Tradução:
Márcia de Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2002.
SERRES,
Michel. Jungle dans la ville. In: Nouvelles du monde. Paris : Flammarion,
2014.
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